segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
Histórias vividas na Musserra parte 1
A Mussera situava-se entre Freitas Mornas e Ambrizete e era servida pela estrada alcatroada que ligava Luanda ao Norte de Angola.
A C. Caç. 3482 tinha lá um destacamento constituído por um Grupo de Combate.
Tratava-se de um quartel agradável com instalações aceitáveis. No quartel havia algumas mangueiras de enorme porte mas que nunca frutificaram enquanto por lá estive, o que lamento porque gosto imenso dessa fruta. O quartel estava situado exactamente em frente de uns morros que ficavam a cerca de mil e quinhentos metros e constituiam um óptimo local para atacar o quartel. Dizia-se que tinham sido armadilhados por um Alferes que terá sido morto sem que tivesse localizado as armadilhas que ali tinha colocado. Verdade ou mentira , o que é certo é nos nunca nos aventuramos a ir lá inspeccionar o local. O quartel era dominado por um torreão, virado de frente para esses morros e onde tinhamos instalado uma Breda.
Também de frente para esses morros, construímos um abrigo subterrâneo que facilitaria a defesa em caso de ataque.
Num certo dia apareceu por lá o foto-cine ido de Ambrizete. Quando isso acontecia era uma alegria para todos, incluindo a população civil, já que representava a possibilidade de "ir ao cinema"...
Nesse dia lembro-me de ter jantado lagosta muito bem regada com várias (demais) cucas fresquinhas.
Tal como combinado com o responsável administrativo, ao cair da noite montamos o ecran na Senzala e praticamente todos os militares para aí se deslocaram para ver os tais filmes. Levamos os unimogs que, à falta de lugares para nos sentarmos funcionavam de cadeiras.
Ia o filme a meio, com praticamente toda a população nativa presente, quando "espavorido" chegou junto de mim o Avelino, soldado de cor, que havia ficado de sentinela. "Meu alferes" gritou ele "há luzes no morro". Todos nós largamos o filme e corremos para o quartel. Subi de imediato para o torreão de que falei e de facto no morro viam-se luzinhas que apareciam e desapareciam parecendo movimentar-se. Sem pensar muito (as "cucas provavelmente também não facilitavam isso...") agarro na Breda e começo a disparar para o local onde se viam as luzes, o que provocou uma confusão de todo o tamanho junto do pessoal nativo que pensou estarmos ser alvo de um ataque.
Nunca se soube a que eram devidas aquelas luzes: O IN para avaliar se estavamos alerta? Os restos de uma qualquer queimada (de que não nos apercebemos)?
O que é certo é que no dia seguinte me fartei de ser gozado pelos oficiais superiores do batalhão: "Então você é que criou toda aquela confusão por causa de umas "luzinhas"??
Acontece que, a Companhia que nos sucedeu em Ambrizete e na qual prestava serviço o Alferes Leitão, também de Operações Especiais/Ranger e a quem eu havia dado instrução em Lamego, me contou depois que "eles" haviam atacado a Musserra e que tinham levado quase toda a população para a "mata".
Quem sabe se não seríamos nós que estava previsto sofrermos esse ataque o que só não terá acontecido, porque demonstramos estar suficientemente alerta para reagir adequadamente se isso acontecesse?
Nunca teremos resposta a esta dúvida...
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