Chegados a Ambrizete, o 1º GC foi destacado para o Loge. Tratava-se de um lugar paradisíaco. Instalações óptimas, boa companhia por parte dos fazendeiros e restantes trabalhadores....
Até que chegou o dia da primeira operação. Deveríamos ir patrulhar a zona junto ao mar.
Autênticos maçaricos, preparamos a operação ao milimitro. Até a MG levamos, para não falar na Bazuca e no morteiro 60. O coitado do Moreira, que mais tarde se veio a transformar num cozinheiro do que havia de melhor, é que não deve ter gostado muito da ideia. Para além do "saco de combate" com tudo o que necessitaria para uma operação de três dias, ainda teve de carregar a tal dita MG, que nunca usamos em combate e também nunca mais nos acompanhou em operações.
Levavamos tudo, só não levamos a água suficiente para três dias de operação, pelo que ao fim do primeiro dia, já quase ninguém tinha água.
A preocupação inicial não foi muita... sabiamos que o rio Loge desaguava no mar e não seria difícil chegar até ele. Assim, quando a necessidade de água foi mais premente, lá nos pusemos a caminho da foz do Loge onde pensavamos encontrar água pura e cristalina. Cada vez com mais sede, lá chegamos à foz do rio. Acontece é que a água que esperavamos que fosse bebível era intragável. As marés faziam com que a água fosse tão salgada como a água do mar. Lá tivemos de aguentar até ao fim da operação, com um sofrimento enorme, com a água que tinhamos levado e que partilhamos entre todos, para que que fosse possível aguentar até ao dia da recolha.
Descobrimos que na foz do Loge havia crocodilos aos montes, que se lançavam ao rio logo que nos pressentiam.
Lembro-me de pernoitarmos, ou antes passamos umas horas da primeira noite, num planalto com imensas palmeiras. Um lugar que parecia óptimo para passar a noite, veio a provar ser perfeitamente impossível: Dos caules das palmeiras saíam "enxames" de mosquitos que nos atacavam implacavelmente. A primeira reação foi a de nos taparmos completamente com os "ponchos". Mas logo se seguida descobríamos que era impraticável... ou os mosquitos conseguiam entrar, e o seu zumbido fazia-nos quase enlouquecer ou o calor era insuportável. Ao fim de umas horas de sofrimento, decidimos por unanimidade ir dormir junto ao mar, mesmo sabendo que se houvesse um ataque, não tinhamos fuga possível. O Moreira lá instalou a MG virada para os morros mais próximos e lá conseguimos dormir um pouco apesar do barulho das ondas mesmo alí tão perto...
Duas lições: Armas pesadas de nada valiam naquele tipo de operações e a água era o bém mais importante naquela zona onde, para além da que levavamos do quartel, nada mais havia que fosse bebível. Lembro-me que o Grabulho, o nosso rádio telegrafista, comprou um garrafão de plástico de 5 litros que nunca mais deixou de levar consigo, sempre que íamos para operações. Eu por mim passei a levar uma cerveja por cada dia de operação... alguém imagina o sabor maravilhoso de uma cerveja logo de manhã muito fresquinha, arrefecida pelas noites frias de "cacimbo"?
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