segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Histórias vividas na Musserra parte 2


A Musserra era uma óptima zona de caça. Havia de tudo desde javalis e veados até às pacassas e palancas. Por lá fizemos caçadas dignas de figurarem em qualquer memorial que sobre as mesmas fosse feito.
No 1º Grupo de Combate havia vários especialista em caça noturma, com especial destaque para o furriel Almeida e os amigos açoreanos e madeirenses (Martins, Telo, Avila, Almeida...) que adoravam um bom pedaço de carne em vez do já impossível de tragar atum ou das famigeradas salsichas. Estavam por isso sempre prontos para uma saída noturna. Eu não gostava muito disso porque receava que acontecesse algo de desagradável e de muito dificil explicação se acontecesse. Felizmente nunca aconteceu nada que pudesse criar problemas, mas não aconteceu por uma sorte incrível...
Acontece que durante uma coluna que o 3º grupo fez e a cerca de 10 km da Mussera, viram um negro junto à estrada que imediatamente se pôs em fuga. Umas semanas depois, quando preparavamos uma operação junto do rio Sembo, onde se dizia haver diamantes mas onde nunca encontarmos nada que a eles se assemalhasse, a coluna que vinda de Ambrizete trazia o pessoal para a operação, resolveu parar na zona onde haviamos visto o tal negro, para inspeccionar o local. Acontece que quando nos derigiamos para a orla da mata, desencadeou-se um tiroteio infernal, tendo inclusivamente a coluna sido alvejada com os famosos rockets RPG7 de fabrico russo, um dos quais atingiu a estrada um pouco atrás da Berliet. A reacção principalmente do atirador da Breda colocada na Berliet, que durante o ataque nunca deixou de fazer frente aos atacantes, impediu males maiores, que se ficaram por meia dúzia de feridos ligeiros, essencialmente pelos estilhaços dos rockets.
A forma como o ataque se desencadeou, evidenciou que eles não estavam ali para atacar aquela coluna. Foram obrigados a reagir devido à aproximação das NT.
A observação do local, permitiu-nos concluir que se tratava de um grupo de cerca de 15 guerrilheiros que se encontravam naquele local há duas ou três semanas. Tinham inclusivamente um posto de observação no cimo de um embondeiro do qual se avistava a estrada. Apesar do apoio de um alouette com uma secção da "páras" imediatamente chamado para se fazer a perseguição, o grupo que rapidamente se pôs em fuga, conseguiu refugiar-se nas matas que circundavam o rio Sembo.
Tivemos a certeza quase absoluta, que a emboscada estava preparada para o Grupo das caçadas que por via de regra se deslocava para aquela zona.Digamos que foi uma sorte tremenda. Normalmente nas caçadas levavamos um só Unimog o que, em caso de emboscada, com o potencial de fogo que aquele grupo evidenciou, não teria havido qualquer hipótese de defesa.
Claro que para o 1º Grupo de Combate, acabaram as caçadas à noite e mesmo de dia, nunca com menos de dois unimogs e duas secções.

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