sábado, 9 de janeiro de 2010

Histórias vividas em Ambrizete - Parte II


Estavamos em Ambrizete há cerca de quinze dias, quando o resto da companhia, ou eventualmente uma qualquer outra Companhia, se foi juntar ao restante pessoal, ida de Luanda.
Autêntico "maçarico" mas já "armado em guerreiro experiente" que os "quinze dias" de estadia "no mato" propiciara, lá fui a comandar a coluna militar que foi receber os camaradas que se vinham juntar a nós, garantindo a segurança de Freitas Mornas para Ambrizete.
À semelhança com o que nos tinha acontecido a nós, os militares e os seus pertences, eram transportados em camionetas civis. Acontece que uma dessas camionetas, e bastante antes de chegarmos à Mussera, despistou-se, saíu da estrada virando-se.
Foi o primeiro episódio que muito negativamente marcou a passagem do B. Caç. 3869 por Angola, já que nesse dia tivemos a primeira das poucas "Baixas" que tivemos durante toda a comissão. Um soldado acabou por falecer no acidente. Foi a primeira vez que tivemos de actuar em situações melindrosas: A evacuação que teve de ser feita, as comunicações que felizmente funcionaram e o apoio médico que teve de ser prestado aos feridos...
Como o estado da viatura não permitiu que fosse rebocada, lá ficamos durante o resto do dia e toda a noite a fazer a seguração à dita viatura. Lembro-me que até trincheiras cavamos para a eventualidade de qualquer acção do inimigo. Foi a primeira noite que passamos fora do quartel e tenho a certeza que nenhum de nós dormiu fosse o que fosse. Era assim de início, extremamente cautelosos, cumprindo todas aquelas regras que nos haviam ensinado durante a recruta. Uns meses depois, quando em operações, embora escaladas, nem sequer sentinelas havia durante a noite, já que umas horas depois de anoitecer, já todos (ou quase) dormiamos a bom dormir e só acordavamos quando as hienas se aproximavam demasiadamente fazendo aquele som característico, muito parecido com o choro de uma criança.

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